Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo. (Mt. 19:26-27).
Certa vez, os discípulos estavam discutindo sobre quem seria o maior entre eles. Quando Jesus chegou, todos se calaram. Cristo, que sonda os corações, como você bem sabe, amigo leitor, começou a ensiná-los dizendo:
– Era uma vez uma igreja. Não qualquer igreja, mas uma que tinha objetos falantes, para não dizer tagarelas. Certa vez, após o fim do culto de domingo, depois que todos os irmãos tinham ido embora, a porta começou a dizer:
– Pensei que o zelador não iria apagar a luz para os irmãos irem embora. Já estava com os braços cansados por abri-los por tanto tempo.
– Mas essa não é a sua função? – perguntou o tapete, que sofria muito pelo fato das pessoas pisarem nele, ainda mais quando era dia de chuva.
– É verdade! Inclusive, é bom ressaltar que é o principal cargo da igreja, pois sou eu quem a abre e fecha. Além disso, se não fosse a porta, por onde as pessoas entrariam? Pelas Janelas?
– EEEEi! – gritaram as janelas indignadas. – Não sei se a senhora está lembrada, irmã porta, mas é por nossa causa que a igreja é tão ventilada e tem luz natural durante o dia. Isso é muito importante para economizar, ainda mais em uma igreja pobre como a nossa! Sem o nosso cargo, tudo seria um inferno escuro e quente.
– “Pensei que o zelador não iria apagar a luz para os irmãos […].” – Começaram a repetir, como era de costume, as caixas de som. Mas antes de terminarem de reproduzir o que tinha sido dito até então, os microfones tomaram a palavra, dizendo em coro:
– O que seriam dos sermões, testemunhos, avisos, louvores, ou seja, do próprio culto, se não existisse o nosso trabalho?
– Nesse momento, meus amigos, a confusão estava instalada. A mesa de som discutia com o amplificador sobre quem tinha a primazia na sonoplastia. O gazofilácio tentava convencer as cestinhas das ofertas que era por meio dele que entrava a maior parte da renda da igreja. As baquetas batiam na bateria e nos outros instrumentos para mostrar quem marca os passos do louvor. Os bancos, para variar, não participavam muito. Alguns dormiam, outros conversavam sobre outros assuntos (um banco estava comentando sobre uma cadeira nova na igreja) e outros pareciam prestar atenção na confusão, mas não opinavam pelo fato de não gostarem de aparecer.
– ESTÁ ESCRITO – gritou o púlpito – AMÉM? … Que o cargo mais importante é o de quem trabalha com a Palavra. – E continuou, mudando o timbre da voz, tentando dar um efeito de imponência, mas que só fazia lembrar alguém que estava tentando ensinar Divisão Silábica a uma criança muito pequena – e nin-guém pode se le-van-tar contra o UNGIDO do Se-nhor.
– Isso fez com que todos ficassem querendo ser púlpito. É verdade que “ninguém pode se levantar contra o ungido do Senhor”, mas o problema é que o púlpito não estava falando de mim, o Cristo. Então tudo indicava que a discussão estava decidida. Mas uma Bíblia, que tinha sido esquecida no fundo da igreja, levantou, com muita discrição, uma das capas para pedir a palavra. Todos se calaram, inclusive o púlpito, que pareceu estar um pouco contrariado.
– Na verdade, – disse a Bíblia – quanto a nós, servos, devemos nos lembrar que está escrito que “Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, há muitos membros, mas um só corpo”.
– Todos se calaram!
Vendo Jesus que os discípulos estavam arrependidos, disse sorrindo:
– Entenderam ou querem que eu desenhe?
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