Um pastor dos tempos bíblicos.


“Inclinam-se diante de qualquer altar com roupas tomadas como penhor” (Amós 2:8).


Um simples habitante de uma vila chamada Tecoa, que ficava a uns 6 Km de Belém, pertencente ao Reino de Judá (Reino do Sul), ouviu Deus lhe dizer o seguinte: “vai e profetiza ao meu povo de Israel” (Am 7:15). Amós, esse era o seu nome, teve que deixar sua profissão, criação de gado e colheita de sicômoros, para se tornar profeta no Reino do Norte, o Reino de Israel. Teve que abandonar suas obedientes ovelhas de Tecoa para guiar as teimosas vacas de Basã, as ricas e mimadas senhoras de Samaria, que foram condenadas, dentre outras coisas, por oprimir os necessitados.

Deus faz o mesmo hoje; isso não é coisa de antigamente. Deus diz a cada um de nós: “vai e profetiza”. Deixar a profissão e a terra natal para profetizar a um povo determinado foi a ordem dada a Amós. É verdade que esse tipo de chamado específico também é feito ainda hoje, mas não é sobre isto que estou discorrendo; mas a respeito do chamado cristão para profetizar. Isso, leitor, estou falando de você mesmo.
Não, não estou me referindo a saber sobre coisas que ainda não são, embora eu também acredite que isso acontece. Temos uma má compreensão sobre o profetismo, pois o limitamos a saber o que acontecerá no futuro. O profeta é, por definição, um entregador da Palavra de Deus, ela se refira ao passado, ao presente ou ao futuro. Amós foi chamado a deixar de colher sicômoros para ir semear os ensinos do SENHOR. O profeta é chamado para lembrar ao povo os aspectos da Aliança que estão sendo negligenciados; aquilo que o nosso Pai quer que façamos e nós estamos deixando de fazer.
Quando o profeta pastor Amós acusa Israel de inclinar-se diante de qualquer altar usando roupas tomadas como penhor (Am 2:8), está lembrando dois aspectos da Lei: primeiro, “não terás outros deuses além de mim” (Ex. 20:3); segundo, “se tomarem como garantia [penhor] o manto do seu próximo, devolvam-no até o pôr-do-sol, porque o manto é a única coberta que ele possui para o corpo. Em que mais se deitaria? Quando ele clamar a mim, eu o ouvirei, pois sou misericordioso” (Ex 22:26-27). Israel nem estava amando a Deus acima de todas as coisas nem estava obedecendo ao “ame cada um o seu próximo como a si mesmo” (Lv 19:18). Nem todo mundo que luta por justiça está profetizando, mas todo profeta, alguém movido pela Palavra e pelo amor de Deus, deve nos lembrar de que devemos dar a misericórdia que queremos receber, já que, como profetizou Catarina de Sena (1347-1380), “é no próximo que provamos ter amor a Deus”.
Uma olhada rápida nos escritos proféticos do Antigo Testamento faz saltar aos olhos um pecado muito comum entre o povo de Israel: a opressão ao pobre. E isso não se limita a enriquecer com a pobreza dele, mas também em vê-lo padecer e não ajudá-lo, pois “quem fecha os ouvidos ao clamor dos pobres também clamará e não terá resposta” (Pv 21:13) e “quem fecha os olhos para não vê-los sofrerá muitas maldições” (Pv 28:27). Quando essa opressão era acompanhada de aparente piedade, Deus se irritava profundamente. Certa vez, Ele disse: “parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim” (Is 1:13).
Como Amós, somos chamados a levantar a nossa voz contra a injustiça. Nem todos são chamados para deixar definitivamente as ovelhas de Tecoa, mas todos são chamados para, em algum momento, deixar suas criações de lado e ir ao Norte (ou seja, qualquer espaço de injustiça) profetizar contra as vacas de Basã. Leitor, saiba que você não pode gastar toda a sua vida colhendo sicômoros, você tem que semear a Palavra de Deus, que matará a injustiça que está crescendo no Jardim do Senhor. Ao invés de uma espiritualidade que torna o próximo distante, Deus quer que “corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene” (Am 5:24).

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