Olá, pessoal! De volta ao nosso estudo sobre escatologia reformada, hoje vamos considerar o Pré-milenismo. De cara é preciso dizer duas coisas: 1) É mais acertado falar de pré-milenismos (isso mesmo, no plural, pois há várias correntes dentro dessa interpretação; e 2) Nenhuma corrente pré-milenista expressa a escatologia reformada.
Obviamente, não será possível um estudo aprofundado sobre o assunto, mas apenas, a exemplo do que ocorreu com o Pós-milenismo no texto anterior, uma visão panorâmica do tema.
O Pré-milenismo, especialmente em sua vertente dispensacionalista pré-tribulacionista, é a corrente escatológica mais conhecida e difundida, e da qual se tem a maior quantidade de publicações disponíveis em língua portuguesa. A escatologia oficial das Assembleias de Deus, por exemplo, é pre-milenista dispensacionalista pré-tribulacionista, bem como de outras igrejas pentecostais, sem contar que vários membros de igrejas históricas também abraçam uma das vertentes pré-milenistas.
O que é pré-milenismo e o porquê desse nome? Pré-milenismo diz respeito a 2 eventos: a 2ª vinda de Cristo e o Milênio, que seria um Reino literal de 1.000 anos chefiado por Cristo aqui na terra e com sede em Jerusalém. Comum a todas as vertentes pré-milenistas tem-se a crença numa grande tribulação e que Jesus voltará ANTES do milênio, que será um período em que Cristo reinará como um imperador judaico por 1.000 anos, ao fim dos quais Satanás será solto e arregimentará as nações contra Cristo numa grande rebelião e será derrotado na Batalha de Armagedom. Findada a batalha e o Diabo derrotado, ocorrerá então o Juízo Final e o destino eterno de todos os homens. Ainda em comum, está a crença em uma dupla ressurreição: a dos salvos, por ocasião do arrebatamento, e a dos não-salvos por ocasião do Juízo Final.
Grosso modo, são nesses pontos que todas as vertentes pré-milenistas concordam, havendo discordância em vários detalhes, assumindo os pré-milenistas outros títulos, tais como pré-milenistas históricos e pré-milenistas dispensacionalistas. Dentre os dispensacionalistas há os pré-tribulacionistas, os midi-tribulacionistas e os pós-tribulacionistas. Tais nomes decorrem do momento em que eles acham que Cristo voltará secretamente para arrebatar a igreja, se antes da grande tribulação, se no meio da grande tribulação ou se após a grande tribulação. Os pré-tribulacionistas creem que a igreja não passará pela grande tribulação. Já os midi-tribulacionistas e o pós-tribulacionistas defendem que a igreja experimentará a grande tribulação de forma parcial ou total.
O dispensacionalismo tem esse nome porque assegura que Deus se relaciona com a humanidade de diferentes formas, divididas em períodos de tempo, chamados de dispensações (os pré-tribulacionistas, por exemplo, anotam 7 dispensações). Comum aos dispensacionalistas está a crença que Deus tem 2 povos distintos: Israel e a Igreja. O plano original de Deus seria o estabelecimento do Reino de Deus com Cristo em sua 1ª Vinda. Como os judeus rejeitaram Jesus, Deus apelou para um “plano B”, que é a Igreja, inaugurando a chamada Dispensação da Graça. Porém, dizem eles, Deus não desistiu do seu plano original e o executará por ocasião da 2ª Vinda, com a inauguração do Milênio.
Para o dispensacionalista na chamada dispensação da Lei, a salvação se dava pela observância e cumprimento da Lei. Com a rejeição de Jesus Cristo como Messias pelos judeus no séc. I, foi encerrada a dispensação da Lei e começou a dispensação da Graça (ou da Igreja), mas este, segundo os dispensacionalistas, não era o plano original, o qual será retomado no milênio, quando Cristo reinará a partir de Israel sobre todas as nações. Por ocasião do Milênio, toda Lei do Antigo Testamento será restaurada, o Templo de Jerusalém reconstruído e os sacrifícios voltarão a ser realizados.
O dispensacionalista lê a Bíblia através de suas convicções extraídas do capítulo 20 de Apocalipse, ou seja, toda a qualquer passagem deve ser lida a fim de tal forma que sua interpretação contemple o milênio, quando um texto obscuro como é o de Ap 20.1-6, deveria ser lido a partir de textos mais claros, seguindo uma das regras básicas da exegese: textos obscuros são interpretados à luz de texto claros.
Outro ponto crucial para os pré-milenistas, qualquer que seja sua vertente, é o arrebatamento, de caráter secreto. Para o pré-tribulacionista, o arrebatamento precede a Grande Tribulação. Enquanto os que foram “deixados para trás” (título de uma série de livros e filmes) sofrem por 7 anos na Grande Tribulação sob o domínio do Anticristo, os salvos arrebatados e os crentes ressuscitados desfrutam das Bodas do Cordeiro, nos céus. Para o midi-tribulacionista o arrebatamento ocorre no meio da Grande Tribulação e as Bodas do Cordeiro duram apenas 3 anos e meio.
Uma das características principais do pré-milenista em geral e do dispensacionalista em particular é a centralidade de Israel na História da Redenção. Isso explica porque tantos crentes têm um apreço exagerado por Israel, havendo inclusive igrejas que ostentam bandeiras de Israel no púlpito.
A escatologia reformada discorda da escatologia pré-milenista. A afirmação de que Deus tem 2 povos, a Igreja e Israel é totalmente estranha à revelação bíblica. A afirmação de uma 2ª Vinda de Cristo em 2 etapas, sendo uma delas secreta, também não encontra respaldo bíblico. A interpretação de um reino milenar terreal, com a capital em Jerusalém, além de desnecessário na História da Redenção, é fruto de uma interpretação viciada. Além disso, afirmar que a Lei Cerimonial do Antigo Testamento voltará a ser observada durante o milênio é afirmar que o sacrifício vicário de Jesus é inútil, desdizendo tudo que está revelado em Hebreus e no Novo Testamento como um todo.
Embora membros de igrejas reformadas, especialmente aqui no Brasil, abracem, equivocadamente, a escatologia pré-milenista, ela não é a escatologia reformada, a qual veremos no próximo texto.
Até lá.
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