BREVE REFLEXÃO SOBRE MORDOMIA (por Presb. Saulo Campos)


Quando alguém ouve a palavra mordomia logo pensa numa série de benefícios desfrutados por políticos e por altos funcionários públicos. Essa compreensão encontra eco no dicionário Caldas Aulete, que define o verbete mordomia como: 1. Vantagens e privilégios oferecidos a certos funcionários, por seus chefes, especialmente no serviço público – 2. Privilégio ou conjunto de privilégios que concedem boa vida a alguém: Tinha muitas mordomias, inclusive carro com motorista – 3. Cargo ou função do mordomo.
A palavra mordomo deriva da expressão latina Major domus (Major/Mor=Maior; domus=casa), o servo maior da casa.  Na antiguidade o Mordomo era um homem livre ou escravo a quem o dono da casa confiava tudo o que possuía para ser cuidado e desenvolvido: terras, dinheiro, joias, esposa, filhos, alimentação da família e administração de suas riquezas.
No sentido secular, mordomia diz respeito ao usufruto de benefícios e privilégios, isto é, alguém sendo servido e recebendo mordomias. Já na perspectiva cristã, mordomia diz respeito ao fiel exercício do ofício de mordomo, alguém que serve com fidelidade ao seu Senhor, ou seja, mordomia é o cuidado e a administração daquilo que pertence a outro. 
A bíblia apresenta mordomos exercendo seu ofício, como por exemplo: 
ELIEZER, o damasceno, cuidava não apenas dos bens de Abraão, mas também da sua família (Gênesis 24.2);
JOSÉ, filho de Jacó obteve favor diante de Potifar, sendo designado o mordomo de sua casa e de tudo o que possuía, de maneira que o seu senhor de nada sabia, além do pão que o alimentava (Gênesis 39.4-6);
PAULO, o apóstolo, enfatizou que devemos lembrar da verdade de que somos mordomos dos mistérios de Deus (1 Coríntios 4.1,2).
A doutrina da mordomia está amplamente difundida nas Escrituras. Em Gênesis 2.15, vemos que Deus pôs o homem no jardim do Éden para o lavrar e guardar e em 1.28 o Senhor lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”. Deus constituiu o homem como mordomo da Sua criação. Portanto, o homem tem o dever para com Deus de utilizar aquilo que dEle recebeu de acordo com a Sua vontade.
O princípio da mordomia cristã é o reconhecimento da soberania de Deus, conforme está escrito: “Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem” (Salmo 24.1-NVI).
Neste sentido, as Escrituras ensinam que o princípio da mordomia cristã deve ser aplicado integralmente à vida do crente: Mente (1), Corpo (2), Tempo e Oportunidades (3), Dons e Talentos (4) e Bens materiais (5).
1. Mente – o crente deve manter sua Mente cativa à Cristo (2 Coríntios 10.15). Isto significa que deve renovar a sua mente (Romanos 12.2). Deve pensar em tudo o que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e louvável (Filipenses 4.8).

2. Corpo – o crente deve apresentar seu corpo como sacrifício agradável a Deus (Romanos 12.1). Isto significa que deve cuidar e preservar seu corpo, pois o Corpo é o templo do Espírito (1 Coríntios 3.16).  Deve vestir-se com decência e discrição (1 Timóteo 2.9). Deve dá-lhe a devida alimentação, descanso e repouso (Efésios 5.28,29). Deve abster-se de fumo, álcool, drogas, alimentação inadequada e exagerada e imoralidade sexual (Romanos 13.13 e 1 Pedro 4.3).

3. Tempo e Oportunidades (Eclesiastes 3.1-8) – o crente deve utilizar diligentemente o tempo e as oportunidades que o Senhor lhe proporciona (Efésios 5.16), bem como utilizar bem as oportunidades para comunicar a Verdade do Evangelho aos não crentes (Colossenses 4.5).

4. Dons e Talentos – todo crente recebe dons (Efésios 4.12). Os talentos são habilidades naturais ou adquiridas ao longo da vida. Já dons espirituais são concedidos pelo Espírito para a edificação do corpo de Cristo (Romanos 12.3-8; 1 Coríntios 12.8-11 e Efésios 4.10-12). Os Dons e Talentos devem ser aplicados para o progresso do reino.

5. Bens Materiais –  a mordomia cristã dos bens materiais será tratada numa próxima reflexão.


       O verdadeiro crente ama ao Senhor com todo seu coração, alma, forças e entendimento (Lucas 10.27). Por isso, sabe que não é dono de nada, apenas mordomo daquilo que pertence ao seu Senhor e que prestará contas de tudo o que dEle recebeu (Mateus 25.14-29). Assim, devemos entender que nosso viver deve glorificá-Lo (1 Coríntios 10.34). Paul Washer na obra O Verdadeiro Evangelho nos leva e refletir:
“Por quem você foi criado? Por Deus. Entretanto, não apenas você foi criado por Deus, mas todas as suas faculdades, a sua própria existência é sustentada por Ele. Você deve cada respirar e cada batida do seu coração a Deus. Aliás, sua respiração é dada apenas para retornar em adoração; e seu coração bate somente para servi-Lo”.
Soli Deo Gloria.
Saulo Campos
Presbítero da Igreja Presbiteriana de Natal

Secretario de Mordomia do Presbitério Potiguar (PPTG-RN)

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