DE PAULO PARA TIMÓTEO: MINISTÉRIO PASTORAL, LIDERANÇA E SERVIÇO – Parte Final (por Rev. Flávio Américo)

Timothy and Lois, de Willem Drost, anos 1650.


A partir de textos como 1Tm 3.3; 2Tm 1.5; 3.14-17,  a sétima lição que extraio das cartas pastorais para Timóteo é a importância da transmissão da fé para as próximas gerações (para ver as seis primeira, veja os dois primeiros textos da série aqui e aqui). As piedosas mãe (Eunice) e avó (Loide) de Timóteo cumpriram o que manda fazer as Escrituras, isto é, ensinar às crianças, às futuras gerações, a Palavra de Deus (ver Dt 6.4-9; Sl 78.3-4). Paulo também relaciona sua fé com seus antepassados (2Tm 1.3).

Deus deu ao Povo da Aliança (no AT, representado por Israel étnico e, no NT, o Novo Israel, composto dos descendentes espirituais de Abraão e que são oriundos dos mais diferentes grupos étnicos) a tarefa de ensinar seus filhos, as crianças que estão na Aliança, a guardar os ensinamentos de Deus. 

É dever dos pais crentes ensinar seus filhos sobre a salvação em Cristo Jesus, ensiná-los a totalidade da sã doutrina (Mt 28.18-20). No entanto, muitos pais terceirizam essa tarefa, atribuindo-a à escola dominical e às programações das sociedades internas da igreja. 

É parte da função pastoral ensinar as crianças, mas isso não exclui o dever dos pastores discipularem os pais para que eles mesmos discipulem seus próprios filhos no ambiente doméstico. Isso fica claro no ensino de Paulo para que Timóteo ensine os diferentes grupos da igreja (de jovens a velhos), que prepare discípulos que saibam ensinar (e que já governam bem a própria casa) e na referência de Paulo ao ensino doméstico (preceituado no AT) dado a Timóteo no seio da própria família. Resumindo usando Timóteo como exemplo, ele foi ensinado tanto por sua mãe e Avó quanto por Paulo, seu pai na fé, dois discipulados que foram importantes para o jovem pastor. 

Que a vida cristã é marcada pelo contentamento e pela esperança é a oitava e última lição (1Tm 6.6-8; 6.14-16; 2Tm 1.6-14; 4.16-18). A sociedade contemporânea tem como uma de suas características o pessimismo. O pensamento do século XIX trabalhou, através da idéia filosófica da morte de Deus, para tirar das pessoas a esperança da eternidade e colocar no lugar a esperança no futuro, uma espécie de escatologia de cunho tecnológico, civilizador, político e social. O pensamento do século XX destruiu a esperança pelo futuro. Agora, início do século XXI, o que sobrou, no máximo, é a esperança solitária de cada um correr atrás de seus próprios sonhos e tentar curtir a vida o máximo possível enquanto a morte não chega, sendo melhor nem pensar muito nela… “sai pra lá com essa conversa”. 

Pensando no evangelicalismo brasileiro, saímos de uma fé que olhava apenas para a eternidade, passamos por uma que tentou mudar o Brasil, e estamos agora satisfeitos com a compreensão de que o Senhor do universo existe apenas para nos fazer felizes. Como o sofrimento, ao final das contas, sempre dá um jeitinho de aparecer, o que sobra é muita depressão, ansiedade, amargura e outras formas de descontentamento e desespero. As mídias, empresariais ou sociais, também não ajudam muito. Citando um samba antigo, se alguém espremer o jornal, sai sangue. Só tem desgraça no black mirror

Na segunda carta para Timóteo, Paulo está preso em Roma e sabe que logo será executado pelo Império Romano, então governado pela flor de pessoa chamada Nero. O apóstolo foi abandonado por amigos (ou supostos amigos), por irmãos na fé, se sentiu muitas vezes sozinho e necessitado de companhia. Não é o final de vida esperado para um líder cristão do naipe de Paulo, mas foi o que aconteceu. Não obstante ter sofrido muito por causa de seu ministério pastoral (surras, ficar preso em prisões cruéis e imundas, naufrágios, ofensas verbais e outras coisas), no final de sua vida, ele não é um homem amargurado. 

Paulo anima Timóteo no ministério, encoraja-o a ficar firme na doutrina, mesmo que isso implique em perseguição e oposição. O apóstolo continua amando o Evangelho e crendo no poder transformador dele. O que fortalece Paulo? O seu relacionamento com Cristo, que é quem o chamou, é quem o sustenta, é quem o aguarda para entregar a Coroa da Vida e é quem sustenta a igreja apesar da vida do apóstolo estar chegando ao fim. Se viver debaixo dessa certeza não mexe com o coração de um pastor, não sei porque essa pessoa é pastor. Oro a Deus para que eu possa terminar minha vida como Paulo (2Tm 2.8-9 e 4:6-8): 

“Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, […] pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada. […] Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.”

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