ESTUDOS NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS (Presb. Emérito Rubens Cartaxo)

ESTUDOS NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS (Presb. Emérito Rubens Cartaxo)

Vamos iniciar uma sucinta exposição da Epístola aos Hebreus, carta que tem uma relevância enorme para os nossos dias, quando vemos a igreja evangélica ser inundada por elementos rituais da Antiga Aliança, rituais esses que tiveram seu papel e lugar até a vinda de Jesus, que apontavam para Jesus. Completando-se a revelação com Jesus, esses rituais deixaram de ter sentido, como é o caso dos sacrifícios no templo, que cessaram há quase 2.000 anos.

         Acompanhe-nos, você vai ficar sabendo de muitas coisas interessantes.

ESTUDO Nº 1: INTRODUÇÃO

AUTOR: Muito embora vários nomes tenham sido sugeridos ao longo da História como possíveis autores da Epístola aos Hebreus, o fato é que para nenhum deles há uma certeza que o afirme e elimine as possibilidades dos demais. Assim, é mais prudente dizer como Eusébio, citando Orígenes: “Só Deus sabe quem realmente escreveu a Epístola (Hebreus)” (História Eclesiástica 6.25).

            Desde a Antiguidade a questão da autoria da epístola é controversa. Já na parte ocidental do Império, a autoria paulina a princípio nunca foi reconhecida. Tertuliano (c. 155-220) sugeriu como autor Barnabé. Tal reivindicação, porém, acabou não se sustentando no ocidente, que, pouco antes do ano 400, aceitou a autoria paulina.

Outras sugestões também ocorreram: Lutero sugeriu o nome de Apolo. Outros ainda indicaram o nome de LucasAdolph Harnack, historiador do séc. XIX indica o nome de Priscila, esposa de Áquila, enquanto outros indicam a autoria dupla de Priscila eAquila.

DATA E OCASIÃO: Embora seja impossível determinar uma data exata, há possibilidade de se definir um período durante o qual a epístola foi escrita.

A primeira citação à Epístola aos Hebreus é feita por Clemente de Roma (c. 95). O autor não se refere à destruição do Templo de Jerusalém, que ocorreu em 70 d.C. Este fato é crucial, visto que a epístola trata justamente dos rituais judaicos que eram executados no Templo. Não havendo referência à destruição, depreende-se que a carta foi escrita antes do ano 70. O autor usa os verbos no presente em Hb 10.11 (“a exercer”, “a oferecer”) ao se referir ao ministério dos sacerdotes no templo de Jerusalém e Timóteo ainda estava vivo (Hb 13.23).

Outros dados são fornecidos pelo autor: seus leitores já eram crentes há muitos anos (5.12; 10.32); alguns de seus líderes espirituais já tinham falecido (13.7); eles já tinham passado por perseguição (10.32-24). Tais dados não nos permitem datar a epístola muito cedo.

Todas essas indicações levaram os estudiosos a datar Hebreus entre o ano 60 e o ano 70. Alguns preferem de 68 a 70, enquanto outros optam por 64 a 68.

DESTINATÁRIOS E PROPÓSITO: Não há, como há nas cartas de Paulo, a designação dos destinatários desta epístola. O título HEBREUS remonta ao segundo século e reflete a convicção de que se destinou originalmente a um grupo de judeus que se haviam convertido através da pregação dos apóstolos (2.3).

O ponto de vista mais aceito é que esta carta foi escrita para crentes judeus, pois não há nenhuma referência ao paganismo e as Escrituras do Antigo Testamento e os rituais levíticos são tratados com notável respeito, como possuidores de sanção e autoridade conferidas por Deus.

O escritor claramente contrasta o estado em que os destinatários se encontram com o estado em que se encontravam anteriormente, com o que deveriam estar, e com o estado em que pareciam estar no perigo de cair. Os crentes hebreus eram indolentes (5.11 e 6.12) e desanimados (12.3,12). Haviam perdido o entusiasmo inicial pela fé (3.6,14; 4.14; 10.23,35). Haviam deixado de progredir na fé e sofriam de séria deficiência no que diz respeito à compreensão e ao discernimento espirituais (5.12-14). Estavam deixando de frequentar às reuniões cristãs (10.25) e de ser efetivamente leais a seus líderes cristãos. Necessitavam ser exortados a imitar a fé daqueles que os tinham precedido na viagem para a glória (13.7). Tendiam a ser levados com facilidade por ensinos novos e estranhos (13.9). Eles começavam a considerar o retorno ao judaísmo como um meio de evitar perseguições (4-9; 10.26-31).

Sujeitos ao sofrimento e vergonha por sua confissão de Jesus, despojados das instituições familiares e visíveis da religião judaica organizada e confusos pelo caráter invisível da glória de Jesus (velada em sofrimento enquanto ele estava na terra e agora escondida no céu), os leitores são tentados a se desviar da fé (10.38-39) e caírem em incredulidade e assim desistirem de sua peregrinação em direção ao descanso de Deus e à cidade de Deus (4.1,2,11; 11.10,14-16; 13.14).

Estavam mesmo no perigo de abandonar completamente a fé, numa deliberada e persistente apostasia (3.12; 10.26), pois haviam ficado pessoalmente desapontados com o Cristianismo porque, por um lado, não lhes tinha proporcionado qualquer reino visível terreno e, por outro lado, o Cristianismo havia sido decisivamente rejeitado pela grande maioria dos seus irmãos judeus. Além disso, lhes parecia que o Cristianismo só lhes envolvera na participação das pretensões injuriosas de um messias sofredor e crucificado. É bem possível, portanto, que se sentissem seriamente tentados a renegar a Jesus como Messias e tornar a abraçar os bens visíveis e preferíveis que o Judaísmo parecia continuar a oferecer.

Esta é a razão pela qual o autor de Hebreus se esmera em demonstrar cabalmente que Cristo é superior aos ritos judaicos, demonstrando que todos os ritos, festas, sacrifícios, vestimentas do Antigo Testamento apontavam para Jesus, a revelação máxima de Deus. Jesus á apresentado como o sumo sacerdote perfeito, que oferece um sacrifício perfeito, de uma vez por todas.

A maioria dos estudiosos contemporâneos acredita que os destinatários originais desta epístola era uma pequena comunidade cristã formada por antigos líderes da sinagoga, os quais se reuniam em uma casa, ou seja, a epístola foi originalmente escrita para uma comunidade cristã específica.

         No próximo estudo, abordaremos a introdução da epístola, constante no capítulo 1.1-4.

         Até lá e continue nos acompanhando.

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