QUEM FOI MARTINHO LUTERO?
Por Rev. Ítalo Reis Dantas
Igreja Presbiteriana de Natal
O contexto histórico da igreja cristã no século XVI era complexo. A Igreja de Roma controlava a vida dos crentes e os escravizava em suas tradições, ritos e princípios escolásticos. Como disse Bavinck, “Roma […] prende os seres humanos à igreja infalível sob a pena de perderem a salvação de sua alma; para os católicos romanos, a igreja infalível e, em última análise, o papa infalível, são o fundamento de sua fé”.
Martinho Lutero (1483-1546) foi alguém que influenciou de forma categórica a Igreja Cristã no séc. XVI. Ele foi fruto do seu tempo, mas protagonizou uma atitude de libertação da opressão romanista, combatendo os equívocos da igreja cristã da época. Monge agostiniano, Doutor em Teologia na cidade de Wittenberg, na Alemanha, era alguém realmente preparado no estudo bíblico, mas que sofria muito por, apesar de ter uma rigorosa prática piedosa, ainda se sentir pecador e impuro diante de Deus, ao passo que não conseguia amar um Deus que “requeria dele uma santidade que não podia alcançar, e nisto seu sentimento era de ódio a este Deus”.
Mas tudo mudou quando o monge agostiniano passou a estudar a Carta de Paulo aos Romanos, na qual ele compreendeu que o justo viverá pela fé, e disto concluiu que “a justiça de Deus é aquela na qual a pessoa justa vive pelo dom de Deus (fé), e a justiça de Deus sobre os homens se refere à justiça passiva, pela qual o Deus Misericordioso os justifica pela fé, podendo assim o justo viver pela fé”.
Neste estudo, o teólogo percebeu que a salvação não era decorrente das obras piedosas, tampouco das indulgências, mas da fé. Ele conclui que “o ser humano sendo uma árvore má pode apenas desejar o mal”, a vontade humana estava condicionada à maldade, de modo que só Deus poderia libertar as pessoas e ele próprio da escravidão.
Munido desta nova perspectiva, Lutero vê o mundo à sua volta de outra forma. As indulgências como forma de salvação foram questionadas por ele. Diante do assédio dos vendedores de indulgências aos crentes de sua paróquia, o reformador decide apresentar suas 95 teses sobre a falta de poder e eficácia desse recurso. Esta atitude libertadora de Lutero afeta diretamente os planos romanos do Papa Leão X, que deseja usar os recursos provenientes das indulgências para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Deste evento, acontece um tipo de inquisição contra os escritos e pensamentos do monge. Chegando uma bula papal que exige a sua retratação de todas as acusações feitas, Lutero responde: “Eu estava errado, admito isso, quando disse que as indulgências são ‘a defraudação religiosa do fiel’. Retrato-me e digo: ‘As indulgências são os abutres e as fraudes mais ímpias dos pontífices mais malandros, pelas quais eles enganam as almas e destroem os bens dos fiéis’.
Após responder a Bula Papal desta forma, ele queima tal bula no meio da cidade. Lutero foi excomungado e isso dá início a uma série de escritos que promovem a chamada Reforma da Igreja Cristã.
A justificação pela fé foi um fôlego de vida para os crentes imersos na teologia medieval, pois, para estes, o perdão dos pecados precisava ser “repetido tantas vezes quantas necessárias, e na eucaristia se repetia o sacrifício de Cristo”, mas na visão bíblica ensinada por Lutero, o sacrifício foi só de Cristo. Na união com Deus, mediante a justificação, os crentes podem desfrutar da bondade e da liberdade.
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