Wicliffe de Andrade Costa
SUGESTÕES PARA USO DA MEDITAÇÃO
Os comentários foram gerados em muitos dias de meditação em um único salmo. Após dezenas de leituras, várias folhas de papel se enchiam com as percepções que iam surgindo. Ao meditar nos salmos, sugiro que seja tomado um caminho semelhante: debruçar-se sobre o mesmo salmo por vários dias. Em cada dia, uma seção do salmo (indicada pelos subtítulos das meditações) poderá ser apreciado devagar, como se você estivesse saboreando sua sobremesa preferida.
Minha expectativa é que essa abordagem dos salmos seja uma experiência enriquecedora e marcante em termos espirituais.
Salmo 27
Davídico.
1 O SENHOR é a minha luz e a minha salvação;
de quem terei temor?
O SENHOR é o meu forte refúgio;
de quem terei medo?
2 Quando homens maus avançarem contra mim para destruir-me,
eles, meus inimigos e meus adversários,
é que tropeçarão e cairão.
3 Ainda que um exército se acampe contra mim,
meu coração não temerá;
ainda que se declare guerra contra mim,
mesmo assim estarei confiante.
4 Uma coisa pedi ao SENHOR;
é o que procuro: que eu possa viver na casa do SENHOR
todos os dias da minha vida,
para contemplar a bondade do SENHOR
e buscar sua orientação no seu templo.
5 Pois no dia da adversidade
ele me guardará protegido em sua habitação;
no seu tabernáculo me esconderá
e me porá em segurança sobre um rochedo.
6 Então triunfarei sobre os inimigos que me cercam.
Em seu tabernáculo oferecerei sacrifícios com aclamações;
cantarei e louvarei ao SENHOR.
7 Ouve a minha voz quando clamo, ó SENHOR;
tem misericórdia de mim e responde-me.
8 A teu respeito diz o meu coração: Busque a minha face!
A tua face, SENHOR, buscarei.
9 Não escondas de mim a tua face,
não rejeites com ira o teu servo;
tu tens sido o meu ajudador.
Não me desampares nem me abandones,
ó Deus, meu salvador!
10 Ainda que me abandonem pai e mãe,
o SENHOR me acolherá.
11 Ensina-me o teu caminho, SENHOR;
conduze-me por uma vereda segura por causa dos meus inimigos.
12 Não me entregues ao capricho dos meus adversários,
pois testemunhas falsas se levantam contra mim,
respirando violência.
13 Apesar disso, esta certeza eu tenho:
viverei até ver a bondade do SENHOR na terra.
14 Espere no SENHOR.
Seja forte! Coragem!
Espere no SENHOR.
FÉ POSTA À PROVA
Texto para leitura: Salmo 27
Este salmo é composto, claramente, de duas partes, que diferem bastante entre si, colocando-nos diante de duas realidades: uma declarada e outra vivida.
1. UMA DECLARAÇÃO DE FÉ (v. 1-6) – O salmista expressa o que o SENHOR significa para ele e nos mostra os laços que o prendem a Deus. A nota dominante é a confiança.
▪ Frente aos ataques dos inimigos (v. 1-3). A realidade do mal não é subestimada. O que se declara do SENHOR implica a presença do mal, pois Deus é apresentado como luz, salvação e forte refúgio. Há situações que ameaçam e, naturalmente, desencadeiam as reações de medo. Porém o salmista confia na interferência salvadora de Deus, derrubando os seus adversários (v. 2), mesmo que esses sejam tão numerosos ao ponto de constituírem um exército (v. 3). Encontrando no SENHOR forte refúgio, o poeta declara-se confiante e destemido.
▪ Frente à face do SENHOR (v. 4-6). O salmista não está interessado somente na proteção que Deus pode lhe dar. Ele busca também uma relação de intimidade, na qual possa desfrutar da presença da própria pessoa de Deus (contemplar a bondade do SENHOR…) e ter discernimento da sua vontade (buscar sua orientação…, v. 4). Apesar de viver na intimidade com o SENHOR e contemplar sua bondade, o salmista admite que virão dias de adversidade. No entanto essa perspectiva é olhada com tranquilidade, devido à confiança na interferência divina, que o protege, coloca-o a salvo dos ataques dos inimigos, em uma condição segura. Mesmo nas adversidades não é perdida a visão da face do Senhor e todo o quadro se encerra com uma nota de alegria (v. 6).
2. UMA VIVÊNCIA DA FÉ (v. 7-14) – A tranquilidade, a harmonia, a segurança, o equilíbrio da primeira parte, agora, desaparecem. A vida apresenta-se marcada por insegurança, perplexidade e paradoxos.
▪ Frente à ausência de Deus (v. 7-12). O conselho dado pelo coração e o propósito de buscar a face do SENHOR (v. 8), as súplicas do vers. 9 e a referência hipotética ao abandono do pai e da mãe (v. 10) sugerem uma fase em que o salmista é confrontado com a ausência de Deus. As cogitadas investidas dos adversários (v. 2-3) se tornam, dolorosamente, realidade (v. 11-12). A fé é submetida à prova. Emergem sentimentos de rejeição, desamparo e abandono. Mas, paradoxalmente, emerge também a fé, que não esquece a experiência com Deus no passado (“meu ajudador”, “ meu salvador”…, v. 9) e leva a Deus seu clamor por companhia e por livramento das dificuldades.
▪ Frente à expectativa da bondade divina (v. 13-14). O salmista está certo de que o SENHOR é bom, não obstante o perigo e as adversidades que enfrenta. Exatamente é isso que significa fé: a visão do que não se vê naquele momento, “a certeza daquilo que esperamos” (Hb 11.1). E, nas palavras de Artur Weiser, “a fé é a força que permite ao fiel suportar a tensão entre a aflição do presente e a sua solução no futuro”. Essa fé fundamenta a exortação à força e à coragem com que o salmo se encerra (v. 14).
Para pensar – Como a minha fé se mostra na bonança? E na tempestade?
Para orar – “Senhor, maior é a tua solicitude por mim, que todo o cuidado que eu comigo possa ter. Se queres que esteja nas trevas, bendito sejas, e se queres que esteja na luz, sê também bendito. Se queres que esteja consolado, sê bendito, e se queres que esteja tribulado, sê igualmente para sempre bendito”. Tomás de Kempis (1380-1471).
Para guardar – Fé: palavra e vida.
OBSERVAÇÃO
Esta meditação faz parte do livro “Intimidade com Deus: meditações nos Salmos”, que você pode adquirir com o autor. Contato: <wicliffecosta@ufrnet.br>.
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