Estamos na estação do outono. Para nós que moramos na capital, este evento pode não ser muito significativo, pois, na prática, continua o mesmo calor dos dias anteriores.
Mas, para o sertanejo, este período é muito significativo, pois marca o calendário da lavoura e prenuncia a chegada do inverno. Com a chegada do outono, a religiosidade sertaneja ganha corpo e, nesta época, romarias, simpatias e rituais enchem o agricultor de esperança por uma boa colheita.
Com isso, igrejas pelo interior começam a ficar lotadas, pessoas que não frequentam o ano inteiro passam a lotar templos, nos quais o catolicismo se utilizou de figuras míticas para formatar a mentalidade do povo do campo, criando figuras como Padre Cícero, Frei Damião, São Francisco de Canindé, Bom Jesus da Lapa etc.
Assim como as estações do ano são sazonais, também o é parte da religiosidade sertaneja, já que está condicionada a um período para ser praticada, no caso, as épocas de chuvas e de boas colheitas. No caso evangélico, pode estar condicionada a sazonalidade das dificuldades no trabalho ou na realização dos sonhos de uma vida melhor.
O risco de uma religiosidade sazonal está ligado ao fato de que, nem sempre, Deus irá responder positivamente as orações; e tão pouco rituais ou simpatias podem, de alguma forma, mudar ou controlar a Vontade Divina, pois Deus age como lhe agrada, e ninguém pode dizer-lhe o que fazer (Dn. 4:34-35).
Vemos exemplos de inconstância no relacionamento com Deus na história do povo judeu, como, para citar um exemplo, durante sua peregrinação pelo deserto. Num momento o povo está celebrando a passagem pelo mar Vermelho, noutro momento questionam o poder de Deus e desejam voltar para o Egito para serem escravos novamente. Numa hora o maná do céu é motivo de festa e celebração, pouco tempo depois, este alimento é motivo de reclamação, “pois no Egito comiam melhor”. (Nm. 11).
Voltando ao contexto sertanejo, sabemos que o solo do sertão é árido, cheio de espinhos e pedregulhos, o que dificulta muito a semeadora e a promessa de boas colheitas. Jesus usa o contexto rural para explicar seu Reino, um dos exemplos é a parábola do semeador (Mt. 13). A semente plantada em terreno pedregoso é semelhante aqueles que ouvem a palavra de Deus e logo a recebem com alegria, mas, quando surgem as tribulações e dificuldades, a abandonam. Muito semelhante ao que acontece no cenário religioso que estamos descrevendo.
A promessa de uma ação divina na colheita abre o coração de muitas pessoas para a espiritualidade, dando início aos festejos juninos e tudo mais, entretanto, quando a chuva não vem e as tribulações aumentam, torna-se difícil continuar festejando nos outros meses do ano.
Um caminho para uma espiritualidade mais coerente está na satisfação em Deus. O apóstolo Paulo, falando aos filipenses, diz: “sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” (Fp. 4:12).
O segredo desta satisfação aprendida pelo apóstolo, e que o capacitava a alegrar-se em qualquer situação, estava na confiança no sustento e fortalecimento divino, ele tinha convicção e fé de que, mesmo que os tempos fossem difíceis, ainda sim, Deus estava com ele, guiando-o e fortalecendo na jornada tortuosa.
Que seu relacionamento com Deus não seja sazonal, mas, em qualquer situação, exercite seu coração e mente para celebrar e adorar a Deus com alegria.
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