É corrente entre a maioria dos irmãos arminianos (e os que pensam que o são) fazer associação entre o livre-arbítrio e a responsabilidade humana. Os teólogos do Teísmo Aberto e da Teologia Relacional também fazem esta associação.
O raciocínio que fazem é simples e aparentemente evidente: se não tenho liberdade, não sou responsável. Se não faço o que quero, não posso ser responsabilizado por isso. Simples e aparentemente correto.
Como vamos tratar de um tema teológico precisamos assentar bases comuns para que a reflexão se dê em alicerces seguros. Bem, qual a melhor base para uma discussão teológica? O que cada pessoa pensa? As emoções de cada um? A cultura na qual estamos inseridos? Será que a melhor base para essa reflexão não seria a Revelação Divina, a Bíblia?
Apesar de muitos defensores do livre-arbítrio não admitirem, o fato é que muito de sua reflexão baseia-se justamente em seus próprios pensamentos, em suas emoções e na cultura. Ora, todos esses elementos são falhos, pois são mutáveis e variáveis. É certo que convicções são mudadas (se não fosse assim, não haveria lugar para arrependimento e muito menos para conversões), emoções se alternam e a cultura varia no tempo e no espaço. Só a Palavra do nosso Deus permanece para sempre.
Assentemos, então, que a base mais sólida para nossa discussão é a Bíblia, a Revelação escrita do nosso Deus. É certo que a revelação divina na Bíblia não é exaustiva, mas ela é suficiente e necessária para a nossa salvação. O propósito da Bíblia não é ser um livro de História ou de ciências, mas ser apresentar o Evangelho da salvação em Cristo. Então, tudo que precisamos para nossa salvação está na Bíblia, não sendo necessário recorrer a nenhuma outra fonte para que ela seja alcançada.
É importante ressaltar esse ponto, pois tão importante quanto o que foi revelado na Bíblia é o que não foi revelado. Explico: não há NENHUM versículo em todos os 66 livros da Bíblia que utilize a expressão “livre-arbítrio” ou um congênero, mas há dezenas de versículos que utilizam os termos “predestinado”, “eleito”, “escolhido” e sinônimos. Ora, fica claro o que a Bíblia quer ensinar!
Entretanto, a Bíblia é absolutamente clara quando afirma que o homem é responsável por seu pecado, ou seja, a Bíblia afirma a responsabilidade humana. Aí é que está o ponto. Os arminianos, e os que pensam que o são, afirmam que livre-arbítrio e responsabilidade humana são sinônimos ou um é corolário do outro. Só que a Bíblia nunca afirmou isso.
Dizer que não pode haver responsabilidade sem liberdade é uma falácia, um engodo, um jogo de palavras, pois na vida prática o que nós temos é justamente o contrário, ou seja, a realidade desmonta a teoria! Raciocinemos.
Em primeiro lugar, quem é absolutamente livre? Resposta: ninguém. Por quê? Porque temos… responsabilidades! Desde o momento em que começamos a nos relacionar com os outros, passamos a ter responsabilidades (deveres) e gozar de direitos. Ora, eu como servidor público tenho uma série de obrigações. Se eu fosse livre, como dizem por aí, por que deveria eu ser responsabilizado se descumprisse qualquer dessas obrigações? Eu respondo por meus atos justamente porque não posso fazer tudo que quero (livre-arbítrio), mas justamente porque a minha vontade está cerceada por um poder externo – a lei e os regulamentos. Ou seja, é justamente os limites, que cerceiam minha vontade, que geram responsabilidade! Só serei punido se transgredir esses limites. Se eu, mesmo contra minha vontade, não os infringir, não serei responsabilizado! Se minha vontade é cerceada, logo ela não é livre. Assim, em sociedade, não existe livre-arbítrio, justamente porque há leis e regulamentos. Uma sociedade na qual todos só fizessem o que desejassem e não o que é necessário fazer, seria um caos e não sobreviveria.
Imagine agora uma pessoa numa ilha deserta. Lá ela faz o que quer: levanta na hora que quer, come o que quer, anda sem roupas e nada lhe cerceia. É totalmente livre. Mas é responsável? Responde a alguém? Alguém lhe pune ou lhe repreende se falar palavrões o dia inteiro, ou fizer qualquer coisa que a sociedade reprova? Não. Ele é totalmente livre. Ora, esse simples exemplo demonstra que o livre-arbítrio indeterminista destrói a responsabilidade humana, jamais sendo seu sinônimo ou corolário.
Somos responsáveis diante de Deus justamente porque Ele estabeleceu limites e mandamentos. Não somos responsabilizados por Deus por causa da nossa liberdade, mas por causa das limitações de nossa liberdade e vontade.
Temos então que a Bíblia não ensina o livre-arbítrio e a vida do dia a dia demonstra que ele não existe.
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