Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. Josué 1:8.
Antes, o seu prazer [do bem-aventurado] está na lei do Senhor,
e na sua lei medita de dia e de noite. Salmo 1:2.
Quem se declara zeloso da verdade, da felicidade, da sabedoria, da ciência ou mesmo da fé deve se tornar um apaixonado pelos livros. Ricardo de Bury, Philobiblon.
Os crentes já foram conhecidos como o povo dO Livro. Lembravam-se de nós pelo fato de andarmos com as Escriturase por conhecemo-la profundamente. Como nos ensinam os textos bíblicos citados acima, éramos bem-aventurados. Cada cristão era um capa-preta. Essa história mudou. Não só porque existem Bíblias das mais variadas cores (praticamente um catálogo de tintas de uma loja de material de construção), mas, sim, principalmente devido à nossa preguiça e falta de interesse em ler e conhecer a Palavra de Deus.
De forma geral, o brasileiro não é muito chegado a livros. É difícil saber se eles são caros porque ninguém compra ou se, por ninguém consumi-los, eles acabam ficando com os preços elevados. Quando estava na Universidade, num curso de muita leitura, como o é o curso de História, observei que os crentes tinham um pouco mais de facilidade para ler e entender o que está escrito, uma vez que na Igreja, desde criança, escutamos, mesmo que vagamente, falar em exegese, hermenêutica, interpretação, gênero literário etc. Infelizmente, os cristãos estão abandonando a leitura, não só da Bíblia, o que é muuuuuuuuuuito grave, mas de qualquer outro livro, o que já é muuuito grave.
Na Idade Média, ainda conhecida como Idade das Trevas, uma forma de pensar bastante equivocada, diga-se de passagem, já tinha gente nos lembrando da importância de ler. O Bispo de Durham, Ricardo de Bury, em sua obra do século XIV, sugestivamente chamada por ele de Philobiblon (amigo do livro), nos ensinou que alguém que busca a verdade, a felicidade, a sabedoria, a ciência (Scientia no sentido de conhecimento, não de método) e a fé deve ser um amante (amator) dos livros. Deve fazer isso mesmo como amador, alguém que faz por amor, não necessariamente por profissão. Alguns de nós lêem porque são obrigados, outros por serem amantes dos livros. Existem os felizardos que fazem pelos dois motivos.
Ler é importante, principalmente para os cristãos, por nos unir aos homens do passado, que partilharam da mesma fé que temos. Segundo Ricardo de Bury, “nos livros, descubro os mortos como vivos”. Na nossa época, tão alheia ao passado e às importantes lições que nos chegam dele, é importante dialogar com aqueles que estão mortos, mas que, na verdade, nunca estiveram mais vivos, já que não são mais corroídos pelas traças da história, uma vez que vivem na Eternidade. G. K. Chesterton disse algo semelhante, em Ortodoxia, afirmando que a tradição é a democracia estendida aos mortos, isto é, a permissão para que o passado também dê a sua opinião. É importante ler, mesmo que sejam obras antigas. Afinal, além de sermos uma denominação histórica (Protestante, Calvinista e Evangélica), não devemos ser tão ingênuos ao ponto de pensar que a Igreja começou no século XXI, talvez, e um talvez bem enfático, no XX.
Ler também é importante porque, como Igreja, estamos sempre em missão. Aqui, então, o foco cai sobre a leitura da Palavra de Deus especificamente. Antes de sermos amigos dos livros, devemos ser amigos dO Livro. Fomos enviados como míssilpara destruir as obras do Inimigo. Somos uma missiva (palavra que vem da expressão francesa lettre missive, carta enviada) de Deus para o mundo. Hoje, os cristãos, de forma geral, não são amigos dAs Escrituras, pois o lêem pouco; o que é uma pena, pois o missionário que não lê a Bíblia não sabe a coordenada do destino para onde está sendo enviado nem tem mensagem alguma para transmitir, é uma lettre missive em branco.
Portanto, meu irmão, comece lendo amanhã. Sugiro, por exemplo, a leitura de João. Se um capítulo for muito, e pode ser, no início, leia apenas uma perícope (uma seção com sentido completo, geralmente dividida pelos títulos em negrito que as sociedades bíblicas colocam para facilitar a leitura). Sejamos verdadeiros amantes da Palavra de Deus, sejamos bem-aventurados meditando nela de dia e de noite.
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