Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores.
Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Lc 22:25-26.

O objetivo desse texto é fazer uma análise da liderança exercida na Igreja e de seus perigos a partir de uma comparação feita com o livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, importante romancista e escritor inglês do século XX. O livro é uma crítica à Revolução Russa, mostrando como a suposta revolução do proletariado (classe trabalhadora, que tem como único bem a força de trabalho e uma grande prole) contra os privilégios e exploração da burguesia (senhores do mundo financeiro e industrial) acabou gerando novos privilegiados e exploradores, no caso russo, o Estado Bolchevique. No livro, Josef Stalin e seus companheiros são descritos como porcos, já mostrando a aversão do autor aos socialistas e estadistas russos. Na história, os animais formam o proletariado, enquanto os homens representam a burguesia.

Tendo como ilustração as manipulações e mentiras dos porcos, bem como a exploração que eles fazem dos demais animais da fazenda, pretende-se mostrar como alguns líderes acabam fazendo mal à Igreja tomando as mesmas posturas dos vilões da história de George Orwell. Serão destacadas três dessas posturas e como elas aparecem nas relações eclesiásticas.

A primeira postura desonesta que os porcos tomaram para manipular e explorar os outros animais, e que os líderes eclesiásticos não podem tomar em relação à Igreja, foi a mentira. Assim como os porcos mentiram para manter o poder, muitas vezes, infelizmente, líderes (em diferentes níveis de autoridade na Igreja) mentem sobre suas verdadeiras intenções para com as comunidades onde estão, teoricamente, para servir. Muitas vezes, eles têm agendas secretas, que são as reais intenções que orientam suas tomadas de decisão, suas ações e palavras. Mentem para gradar pessoas que julgam importantes, mentem para não assumir suas próprias falhas, mentem para manipular os outros e para receber apoio, e, assim, prejudicam o Corpo de Cristo.

Usar os outros como objetos e meios para alcançar benefício próprio configura-se como a segunda postura tomada pelos porcos da história de Orwell e que não deve, em hipótese alguma, ser tomada por líderes cristãos, uma vez que é pecaminosa (à semelhança da primeira postura). Os porcos, com o mentiroso discurso de igualdade, se beneficiavam, de forma egoísta, do trabalho dos outros animais, revelando com essa atitude o caráter explorador deles. Um dos personagens mais explorados, que trabalhou até a morte, e que serve como símbolo das pessoas bondosas que são abusadas por seus líderes, é o cavalo Sansão (muito forte mas pouco inteligente, como o homônimo). Se levarmos em conta que Jesus nos ensina que a liderança cristã é marcada pelo serviço (Lc 22:24-30), resta evidente que não faz sentido alguém que se diz líder entre os santos agir de forma egoísta e exploradora como fizeram os porcos.

Tratando especificamente dos pastores, é triste constatar que muitos deles vêem a igreja local (e, às vezes, a IPB) como forma de realizarem seus sonhos e anseios, fazendo de tudo para sugar o máximo possível dos fiéis, agem mais como lobos do que como pastores de ovelhas, ou melhor, para manter a figura do livro, como porcos. 

A terceira postura característica dos porcos do livro de Orwell que deve servir de exemplo negativo para a liderança entre nós é a forma pecaminosa como lidaram com oposição. Da fazenda do livro, os porcos expulsaram todos os que tinham pensamentos discordantes e criaram uma ditadura, em que os animais eram calados com mentiras (primeiro ponto trabalhado nesse texto) ou por violência. Na Igreja, infelizmente, isso acontece muitas vezes, pois muitos líderes usam de assédio moral ou da autoridade espiritual para fugir do debate ou de uma maior participação dos membros, transformando a Comunidade dos Santos em um lugar de opressão, não de liberdade, como deve ser.

Os porcos também procuraram macular a memória dos opositores, através de mentiras, calúnias e difamação. Como isso faz mal para Igreja e acaba sendo uma ferida que gera divisão em muitas comunidades! Divisão não só de posicionamento como a abertura, termo bastante eufêmico, de uma outra igreja, que macula a Igreja. Esse pecado, comum de forma local, também atinge nossos concílios e o mundo evangélico de forma geral.

Portanto, o líder cristão não deve buscar seus próprios interesses, explorando assim os outros irmãos e que são ovelhas como ele, pertencentes a Cristo. O cristão também não deve mentir e enganar para manter-se na liderança, pois, se ele é vocacionado, o Senhor há de chamá-lo para o local em que deve servir. Por fim, o cristão, sendo líder ou não, deve aprender a lidar com a oposição, agindo com firmeza, amor e verdade.


Cidade do Sol, 17 de abril do ano do Senhor de 2015.

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